Virar a Oriente! | Artigo publicado em Vida Imobiliária, 26 novembro de 2015.
Escrevemos este artigo em 26 de novembro de 2015, também para a Vida Imobiliária, mas é curioso verificar que poderia ter sido escrito hoje, tal a sua atualidade:
“Ainda se faz a história da última Semana da Reabilitação Urbana da cidade do Porto, um evento muito bem liderado pela Vida Imobiliária.
Foi, de facto, a altura certa para se fazer um ponto de situação sobre o panorama da reabilitação urbana da cidade, o que aconteceu de bom, o que está a correr menos bem e qual a perspetiva de desenvolvimento futuro, aliás, o título deste artigo.
É uma evidência que o turismo tem sido a mola percussora da reabilitação urbana da cidade, onde a procura de edifícios para a atividade hoteleira é uma constante, quer para unidades turísticas de alguma dimensão, quer para o alojamento local.
O comércio de rua tem beneficiado com esta realidade, e o eixo Rua das Carmelitas, Rua dos Clérigos, Rua 31 de janeiro, Rua de Santa Catarina e Rua Sá da Bandeira tem estado pujante. Em breve vai ser melhorado com a reabilitação do Mercado do Bolhão e também do Quarteirão da Casa Forte, dois projetos estruturantes.
No entanto, todos os dias surgem notícias de novos empreendimentos hoteleiros. No dia em que este artigo é escrito, por exemplo, é noticiado nos meios da comunicação social o aparecimento de trinta novas unidades hoteleiras!
O investidor hoteleiro tradicional procura edifícios de alguma dimensão, tem capacidade de investimento e tem Conhecimento. Sabe como comprar, nomeadamente atendendo à rentabilidade exigida e à necessária economia de escala, mesmo que em algumas circunstâncias tenham adquirido espaços com preços um pouco exagerados.
É um investidor informado!
O mesmo não se poderá escrever sobre os investidores em alojamento local, apesar de uma ou duas boas exceções, como a que ocorreu no Palácio dos Condes de Azevedo.
Qualquer quer tipo de imóvel está a servir para esta função e qualquer perfil de investidor tem servido para alavancar este tipo de negócio. Tem surgido como uma “galinha dos ovos de ouro” que está a atrair todo o tipo de investidores.
O que preocupa não são os investidores institucionais, que sabem entrar e sair do mercado, mas sim os investidores menos avisados e economicamente menos fortes e mais alavancados.
Não está a ser acautelado que uma crise no turismo pode acontecer.
Neste cenário corre-se o risco do centro da cidade voltar ao antigamente, ao vazio, e muitos investidores ficam em condições precárias, com dividas à banca ou a construtores e promotores imobiliários.
O que está a acontecer não é necessariamente mau mas está a aumentar exponencialmente o preço dos imóveis para reabilitar, o que ameaça tornar a reabilitação menos atraente.
Desvia também imóveis de um mercado importante, que é o mercado habitacional.
Estamos a correr o risco, efetivamente, de matar a “galinha dos ovos de ouro” e a perder a oportunidade de atrair residentes para a cidade!
Urge, portanto, começar a mudar o paradigma da reabilitação urbana.
A cidade tem que começar a atrair outro tipo de utilizadores do espaço urbano.
É crucial que não sejam afastados os habitantes habituais da cidade, com sotaque tripeiro, e que sejam criadas condições para as pessoas habitarem o centro.
Tem que ser feita uma aposta firme no setor da habitação e atrair empresas para tornar o Porto numa plataforma de negócios, onde se possa afirmar como um interface entre a Europa, América do Sul e África.
Em abono da verdade, devemos dizer que este executivo da Câmara Municipal do Porto tem feito um esforço notório para atrair para a cidade novos públicos.
Está a fazê-lo de uma forma inteligente ao deslocalizar o foco para a zona oriental.
Esta zona tem um potencial enorme, quer em edifícios que podem ser recuperados para habitação, quer em antigos armazém que podem ser novamente explorados.
Claramente, é uma zona que se pode tornar novamente industrial e também de serviços, aproveitando as acessibilidades que estão previstas e o terminal intermodal de Campanhã.
Sabemos que os grandes investimentos na capital do país estão a escassear e que os grandes investidores estão de olho na cidade.
É preciso virar a Oriente!”
PS: É curioso que “Virar a Oriente” persegue o imobiliário.
“Viramos a Oriente” quando:
– Fizemos a EXPO98. Viramos a Oriente na reabilitação de Lisboa.
– Fizemos os “Vistos Gold”. Viramos a Oriente no investimento imobiliário.
– O Porto. está a desenvolver a zona oriente da cidade!